Também os "Bloggers" vão de Férias!
É inevitável! Depois de quase dois anos de pandemia de saúde pública, social e económica catastrófica em Portugal e no mundo, onde milhões de pessoas perderam (e continuam a perder) a sua vida ou a vida dos seus familiares e amigos devido à Covid-19 (por falta de informação, contágios derivados da falta de cumprimentos de regras sanitárias básicas e vacinação), onde governos adotaram estados de emergência e calamidade, regras sanitárias apertadas e confinamentos gerais da população; alterações climáticas visíveis e com consequências catastróficas, apagões energéticos, fogos florestais, entre outras; é visível e natural que todos nós cidadãos estejamos cansados, em maior ou menor grau de sofrimento físico e mental, extremamente desgastados e alheados da realidade na maioria das vezes em relação ao estado geral do país e até, nalguns casos, muitos, da vida familiar.
Recordemos que muitas famílias perderam tudo o que tinham económica e financeiramente. São conhecidas as inúmeras famílias que perderam os seus rendimentos e ficaram debilitadas, quase que marginalizadas, desapoiadas. Cresceu o número de sem abrigos em Portugal e de famílias a necessitarem de apoio alimentar. Pôs a "nu" o problema das condições existentes nos lares, casas de repouso e residenciais para idosos e daqueles que mais necessitam deste tipo de equipamentos, apoios e respostas sociais.
No meu caso e da minha esposa, nós estamos cansados e completamente esgotados, não só pelas profissões que temos, e onde, a nossa posição e grau de desempenho, desde a notificação dos primeiros casos de Covid-19 que se soube, tudo fizemos profissionalmente para respondermos à crise pandêmica (muitos colegas nossos entraram em “burnout”), mas como pela falta de compromisso, ética, moral, de compreensão humana, respeito pela liberdade, pelos direitos e garantias, onde a mobilização foi palavra de ordem e as nossas “obrigações” também fazem parte da cidadania ativa; mas sim também, da parte de muita gente a que assistimos a um completo desvario de falta de consciência, social e humana, de informação e inteligência, a um deboche de chorrilhos de falsos milagres ou inverdades, teorias da conspiração retiradas dos melhores "best-sellers" mundiais, fontes de informação que não são fontes de informação e múltiplas publicações no facebook, twitter, instagram, tik-tok, entre outras que por aí proliferam desordenadamente por parte dos utilizadores e leitores mais assíduos de tais plataformas no éter virtual.
Sim, vamos de férias, mas não vou publicitar onde, nem quando, publicar selfies minhas e da minha esposa ou responder a comentários de outros, e acima de tudo vou desligar o pc, telemóvel e outros equipamentos e quero lá saber dos “likes e emojis” dos outros e de outros tantos que pessoalmente nem os conheço.
Sim, também sei que outros vão de férias, todos nós temos direito a descansar, mas são férias responsáveis. Não de consumo económico exagerado e fútil, de apregoadas experiências únicas. São férias onde vamos continuar a utilizar máscaras, a fazer distanciamento social, a lavagem e higienização frequente das mãos ou etiqueta respiratória, exercício físico, contacto com a natureza selvagem sem interferir. E sim, estamos há muito tempo vacinados, temos certificados de vacinação completa e testes negativos, mas também não fazemos tensões de voar para algum lado, estar nos mesmos sítios ao mesmo tempo que outras pessoas. Não fazemos de conta que tudo está bem no nosso país, não andamos por aí a vaguear na oferta turística hoteleira e de natureza paisagista nacional e internacional amplamente publicitada e explorada. A natureza quer-se natural, rude, agressiva na sua forma mais bela, mas também sustentável e necessária, sem interferência humana. Apenas precisa de ser observada, compreendida e preservada, não o contrário.
E sim, também os "bloggers" (amadores) vão de férias!.
Carlos Carrapiço
