DIVERSIDADE CULTURAL
O título é inequivocamente rico ninguém pode dizer o contrário. Começa por sustentar que existe uma “Diversidade Cultural”, consideração inatacável, mas que se levanta uma complicada questão: serão as diversas culturas iguais em valor (e em valores) ou há uma(s) mais avançada(s) que outra(s)?.... Recordemos que a retórica panegírica das “Descobertas” e do colonialismo europeu afirmava ter como intenção “a missão civilizadora” em nome da qual se destruíram outras culturas (os Maias, os Aztecas…), que hoje os historiadores consideram que no seu tempo nada ficavam a dever á cultura europeia. Recordemos o modo indigno como os portugueses ridicularizaram um respeitado régulo moçambicano de Gaza – a quem chamamos "Gungunhana", mas cujo verdadeiro nome era Ngungunhane – ou como celebramos acriticamente a “destruição” dos índios na América. Ou ainda, como entendemos que a nossa forma de governo (a nossa forma de “democracia”) deve ser imposta a outros povos (outras culturas), porque a “nossa cultura política” é melhor que qualquer outra. Todas as culturas têm suporte em narrativas da história. Falamos de uma cultura europeia, postulando alguma continuidade ao longo da História analisada com olhos europeus, embora nessa mesma Europa se tenham desenvolvido culturas de povos diferenciadas entre si. Falar de uma “Cultura Portuguesa”, é postular que há nela algo específico que permite distingui-la na Cultura europeia. Mas ao falarmos de uma Cultura portuguesa a que nos referimos? Ao sectarismo religioso com evidentes razões políticas e económicas que expulsou os judeus do seu território ou á aceitação regulamentada, de diferentes religiões?... Continuamos a ouvir falar de “portugalidade” e do modo de ser “português”. Mas há uma dimensão em que, creio eu, todos estaremos de acordo: a afirmação de direitos humanos universais, idealmente assumidos por todas as culturas, é uma conquista histórica a defender e a consolidar. Podemos então falar de um “Diálogo” entre Culturas? Parece que sim. Mas sem esquecermos que nem todas têm as mesmas armas. A “força” de uma Cultura que mesmo respeitando as outras acaba por submetê-las, é inseparável do poder económico e do imperialismo linguístico, mas também do “caldo histórico” de que emerge. Sublinhe-se que o “culto de uma cultura nacional ou de um povo é muitas vezes um fator determinante de resistência política”. Casos em que as culturas não dialogam com elas, combatem-se. Não foi por acaso que ao longo de todo este “escrito” evitei a referência ao racismo e á xenofobia. São práticas indefensáveis com que muitos sublinham a pretensa inferioridade da “cultura” e da pessoa dos outros, prática doentia de quem considere necessário defender a pureza da sua cultura de maléficas influências do exterior. A integração na União Europeia mudou substancialmente esta visão. Viajamos por muitas culturas, o programa Erasmus põe parte significativa da nossa juventude em contato direto com outras juventudes, o que nos permite um enriquecimento cultural. Tornamo-nos “cosmopolitas”. Então será que continua a fazer sentido falar de uma Cultura portuguesa numa Europa cada vez mais multiuniformizada culturalmente?
(By ANONYMOUS DIDÁCTICA 2021)
Autor: Anonymous Didáctica 2021
Fonte: Anonymous Didáctica 2021
O Blogue da Cidadania Ativa; Inclusão Social; Sustentabilidade Ambiental e Natureza
Carlos Carrapiço
2021