sexta-feira, 15 de outubro de 2021

ANONYMOUS DIDÁCTICA - "TEMOS QUE LUTAR" 2021

TEMOS QUE LUTAR

No dia em que escrevo este texto, faço-o para que fique aqui o meu testemunho e a minha revolta contra as situações de discriminação e  bullying que inaceitavelmente continuam a existir em contexto escolar. Devia ser ensinado a todos os jovens como disciplina (Cidadania Ativa), tal como outra qualquer, o que é a "Igualdade de Género". As crianças e os jovens conseguem ser cruéis com a diferença e com o estigma, chegando a marcar negativamente a vida de qualquer colega que se evidencie por algo que seja considerado fora dos estereótipos sociais. Apesar de todas as campanhas e selos que os Agrupamentos Escolares exibem do combate ao Bullying, o que se nota é que o problema resiste. 

Tem que haver uma maior abertura por parte da direção das Escolas e Agrupamentos, para que haja uma abordagem mais específica e série junto dos alunos sobre esta matéria. Não é admissível que haja abandono escolar devido ao Bullying. Não é admissível que para além de, e em muitas outras patologias próprias da adolescência e da juventude, tenhamos os nossos alunos a precisar de um Psicólogo devido aos "maus tratos" provocados pelos próprios colegas (não é só pela Covid-19 que os psicólogos devem agir, - isto não é desculpa para não se atuar no campo do Bullying e em muitas outras coisas, - como profissional sei do que escrevo). Em Portugal apesar de tudo quanto se quer fazer passar cá para fora, ainda estamos muito atrasados em muta coisa. Somos muito preconceituosos, conservadores e ensinamos isso aos nossos filhos. Está errado. 

Portugal é, sempre foi, e será cada vez mais um país multicultural onde várias raças e culturas se cruzam. Porque não começar por lhes explicar:  "Stonewall" em Nova York (1969) marca o início de uma longa luta, quando a repressão policial se abateu contra a comunidade homossexual como se de seres vindos de outro planeta se tratasse. Essa luta foi ganhando força e visibilidade com marchas em novas cidades dos EUA e depois um pouco por todo o mundo. Em Portugal, só em 1982 é que a homossexualidade foi descriminalizada e o grande impulso em termos legislativos e de ativismo e movimentação social apenas viria a ocorrer na viragem do século. 

A igualdade em função da orientação sexual está consagrada na lei, no acesso ao casamento e á adoção, no direito á autodeterminação de género, garantindo a nossa Constituição tratamento igual e proibindo a discriminação. Podemos afirmar que se conseguiu avançar do ponto de vista legislativo, mas todos sabemos que esses avanços não correspondem na realidade a uma mudança de mentalidades, o que equivale a dizer que a nível social não houve avanço nenhum para que as discriminações das mais variadas formas tenham deixado de existir. 

Em países onde o conservadorismo populista e a extrema-direita têm vindo a ganhar terreno, ataques de ódio de grupos de extrema-direita e repressão policial são tolerados e incentivados pelo poder, através de leis criminalizadoras da homossexualidade, como acontece na Hungria e na Polónia. Em Portugal, as pessoas homossexuais têm um longo historial de repressão e silenciamento. Durante a Inquisição; no Séc.XIX; com a República; no Estado Novo; …, e com o 25 de Abril e a Democracia a sua vida mudou? Sabemos que não, foram precisas cerca de três décadas  para que homossexuais e lésbicas pudessem ver o dia e fazer ouvir as suas vozes. 

Vistos/as como doentes, anormais, indigentes, contra natura, só em 1982 com a revisão do Código Penal é que a homossexualidade foi despenalizada em Portugal. O facto de a sua sexualidade sair fora do padrão, ou a cor da sua pele não ser a mesma, estigmatizou e atomiza milhares de seres humanos ao longo dos séculos, tendo o Estado, as Igrejas, a Medicina e a Sociedade em geral criado uma teia intransponível, impedindo que estas pessoas pudessem viver as suas vidas. Há lutas muito prolongadas. Há lutas muito difíceis. As lutas para resolver as discriminações mais profundas na Sociedade, aquelas que a Sociedade naturalizou, aquelas que são “incómodas”, que diminuem o outro por ser “diferente”, são aquelas que demoram mais tempo a resolver. 

Mas o "mundo pula e avança” e a verdade é que as pessoas LGBTI+  têm conseguido, de forma corajosa, sair da invisibilidade e ocupar na sociedade o seu espaço e os direitos que são os direitos humanos universais a que uma sociedade democrática aspira. Mas, apesar de orgulhosamente terem assinalado algumas conquistas ao direito ao tratamento igual, à não discriminação e ao respeito parece que ainda é difícil para algumas mentes malformadas conservadoras populistas reconhecer a sua identidade e o direito à sua cidadania plena. No entanto, alguns municípios e cidades em Portugal já assinalam à semelhança de outros países da EU o dia "Nacional e Internacional contra a Homofobia" hasteando a bandeira arco-íris no exterior dos edifícios (17 maio). Infelizmente, e segundo Almerinda Bento, dirigente do SPGL,« ... e de forma vergonhosa, Portugal  foi palco de um triste espetáculo de cobardia política para com a comunidade homossexual». O malabarismo e os recentes resquícios de “neutralidade” do governo português, quando veste o chapéu da Presidência do Conselho da União Europeia e que deixam de existir quando se é apenas país membro, remetem-nos para esse mal-estar de quem não quer ferir quem tem uma visão homofóbica e de desrespeito pela democracia e pela igualdade de direitos de todos os cidadãos. Mais uma vez, a hipocrisia veio ao de cima, mas o caminho da igualdade é imparável. VIVA A LIBERDADE!


(By ANONYMOUS DIDÁCTICA 2021)




Autor: ANONYMOUS DIDÁCTICA 2021

Fonte: ANONYMOUS DIDÁCTICA 2021



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